Sophia de Mello Breyner Andresen
"Se possuísse uma canoa e um papagaio, podia considerar-me realmente como um Robinson Crusoé, desamparado na sua ilha. Há, é verdade, em roda de mim uns quatro ou cinco milhões de seres humanos. Mas, que é isso? As pessoas que nos não interessam e que se não interessam por nós, são apenas uma outra forma da paisagem, um mero arvoredo um pouco mais agitado. São, verdadeiramente como as ondas do mar, que crescem e morrem, sem que se tornem diferenciáveis uma das outras, sem que nenhuma atraia mais particularmente a nossa simpatia enquanto rola, sem que nenhuma, ao desaparecer, nos deixe uma mais especial recordação. Ora estas ondas, com o seu tumulto, não faltavam decerto em torno do rochedo de Robinson - e ele continua a ser, nos colégios e conventos, o modelo lamentável e clássico da solidão."
Eça de Queiroz
"Um peixe pode ser só um peixe, sem espinhas nem pele prateada, cozinhado e pronto a comer. Mas também pode ser muito mais do que um peixe, pode ser um espelho da maior solidão do mundo enquanto arrefece sobre uma placa mármore"
Lydia Davis
Para mim foste sempre como um Pai
Nos primeiros tempos era complicado
Mas depois comecei chamar-te Pai
E soube bem
Todos diziam que tu tinhas mau feitio
Quem não tem?
Mas para mim nunca o tiveste
Sempre fomos cumplices.
Tantas vezes choramos juntos
Tantas vezes rimos juntos.
Foste sempre um Homem com "H" grande
Sempre soubeste o que querias
Sempre foste correcto e justo.
No dia em que te fui ver ao hospital
Doeu,
Doeu tanto ver-te deitado naquela cama
Enroscado, tão magrinho
Mas doeu mais
Quando no dia dia a seguir
Recebi A chamada
Percebi que tinhas apenas estado à espera
À espera para te despedires ´
Doeu tanto, doi e vai continuar a doer
Vai ser uma dor que não vai passar nunca
Mas que me vou ter que habituar a viver com ela
Porque sempre gostei de ti como um Pai
E vou gostar sempre!
O meu único consolo é saber que partiste
Sem sofrer e calmo, por isso
Descansa em paz Pai!